ANÁLISE DOS SAMBAS 2017 – PORTELA

ANÁLISE DOS SAMBAS 2017 – PORTELA

Escrito por Hyder Oliveira.


A escola que é detentora de alguns dos melhores sambas da década sempre gera grandes expectativas para o que levará no dia do desfile oficial. Portanto, “quanto mais se é confiado, mais se é cobrado”. Justamente por isso, o samba deixa muito a desejar. Com um enredo inspirado na maior homenagem musical feita por Paulinho da Viola à sua escola de coração, era de se esperar um resultado melhor, mais emocionante. Mas tem suas virtudes, que serão analisadas a partir de agora.

O PERFUME DA FLOR É SEU
UM OLHAR MAREJOU SOU EU
QUEM NUNCA SENTIU O CORPO ARREPIAR
AO VER ESSE RIO PASSAR

Refrão de uma pegada melódica objetiva, mas que não consegue empolgar tanto. Porém, a letra é muito clara e apresenta muito bem o enredo em todos os seus versos. Aborda o culto a divindades das águas, através das flores entregues como oferendas, perfumando o rio. Também há uma sacada genial com a emoção da pessoa que se encanta com as belezas naturais que o rio oferece, trazendo à lembrança a música “Foi um rio que passou em minha vida”, verdadeiro hino da escola, muito bem abordado no título do enredo. Por esses motivos apresentados, meus sinceros cumprimentos aos compositores.

VEM CONHECER ESSE AMOR
A LEVAR CORAÇÕES ATRAVÉS DOS CARNAVAIS
VEM BEBER DESSA FONTE
ONDE NASCEM POEMAS EM MANANCIAIS
RELUZ O SEU MANTO AZUL E BRANCO
MAIS LINDO QUE O CÉU E O MAR
SEMENTE, DE PAULO, CAETANO E RUFINO
SEGUE SEU DESTINO E VAI DESAGUAR

Falar de Portela é algo muito fácil. Nem sempre precisa de palavras. Muitas vezes apenas em um batuque, em uma batida de coração, em uma lágrima que cai. É um berço, tem que respeitar. Toda homenagem à agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira ainda é pouco diante da importância da maior campeã do carnaval para a nossa cultura. Porém, o samba reservou uma estrofe inteira para a valorização do pavilhão, algo muito maior do que o espaço reservado para isso na sinopse. É inegável a beleza da letra, caprichosamente trabalhada nesse rio que nos remete às maiores emoções da história da escola, desde o momento de sua fundação, com os inesquecíveis Antônio Rufino, Antônio Caetano e Paulo Benjamin de Oliveira (o Paulo da Portela). Estrofe belíssima que retrata um amor que nem o tempo nem as águas puderam levar.

A CANOA VAI CHEGAR NA ALDEIA
ALUMIA MEU CAMINHO, CANDEIA
ONDE MORA O MISTÉRIO, TEM SEDUÇÃO
MITOS E LENDAS DO RIBEIRÃO

Refrão do meio sem grandes novidades. Na verdade, não tinha muito o que tirar do enredo. Mas foi interessante e eficiente o uso da palavra “candeia”, que pode ser visto por dois sentidos: o denotativo, que é um candeeiro que tem a função de iluminar o ambiente, além do sambista Candeia, que compôs quatro sambas vencedores na história da Portela. Também aborda o aspecto mítico dos rios, os contos, como o “monstro do lago Ness”, o boto cor-de-rosa, Cobra-Grande, Boiuna e sereias como a Iara.

CANTAM PASTORAS E LAVADEIRAS PRA ESQUECER A DOR
TRISTEZA FOI EMBORA, A CORRENTEZA LEVOU
JÁ NÃO DÁ MAIS PRA VOLTAR (Ô IAIÁ )
DEIXA O PRANTO CURAR (Ô IAIÁ)
VAI INSPIRAÇÃO, VOA EM LIBERDADE
PELAS CURVAS DA SAUDADE
ÓH MÃMÃE ORAYEYEO VEM ME BANHAR DE AXÉ ORAYEYEO

É ÁGUA DE BENZER, ÁGUA PRA CLAREAR
ONDE CANTA UM SABIÁ

É estranho que um samba tão grande em um enredo com poucas opções tenha explorado tão pouco alguns setores tão importantes. Pastoras e lavadeiras, por sinal, estão em setores bem distantes. As pastoras refletem a fé dos fiéis na cerimônia do batismo de adultos e as lavadeiras são trabalhadoras que ganham a vida com a água. Para esquecer e aliviar problemas, nada melhor do que um profundo mergulho no rio. A água que nunca mais será a mesma. A água que inspira óperas, clássicos e serve de paisagem para os grandes espetáculos. No fim da estrofe, dois versos destacados para ressaltar a importância das águas nas tradições da umbanda, lavando escadarias e benzendo pessoas para o “descarrego”, além de saudar Oxum, a orixá das águas doces do rio.

SALVE A VELHA GUARDA, OS FRUTOS DA JAQUEIRA
OSWALDO CRUZ E MADUREIRA
NAVEGA A BARQUEADA, AOS PÉS DA SANTA EM LOUVAÇÃO
PARA MOSTRAR QUE NA PORTELA O SAMBA É RELIGIÃO

Na estrofe final, mais valorização do pavilhão e gratidão pela história da agremiação. No ano do tricentenário da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba do Sul, a fé católica é ressaltada com a importância da devoção popular. O berço dos bambas traz o respeito a todas as raças, credos, sexos e culturas. Portela é tradição!!!

Olha, o samba tem uma letra bonita, que emociona muito. Isso é fato! Mas peca pela pouca utilização de todos os setores contidos na sinopse. Ressalto que não era uma tarefa tão fácil, pois o enredo não é tão abrangente. Mas quem escuta o samba não consegue compreender claramente o tema, o que pode ser um problema para os jurados. Mas sabemos da força da comunidade, que deve cantar a plenos pulmões e garantir altas pontuações na avenida. Voa, Águia Guerreira!!!


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